A maneira pela qual a pessoa
crucificada
proclama a cruz
Quanto ao lado prático.
Sempre que o Senhor nos envia a certo lugar em certa época a fim de testemunhar
dele, devemos, de novo, livrar-nos da inclinação ao amor e à dependência de
nossa vida natural, e estar dispostos a deixar de lado nossa emoção ou
sentimento. Embora, às vezes, nada sintamos, ou nos sintamos frios como gelo,
podemos ajoelhar perante o Senhor e pedir que a cruz faça seu trabalho mais
profundo em nós para que possamos controlar nosso sentimento — seja ele
frio ou quente em cumprir o mandamento do Senhor.
Podemos pedir ainda mais que
o Senhor fortaleça nosso espírito. E enquanto a vida da alma nesse instante
recebe seu golpe fatal na cruz, o Senhor conceder-nos-á mais graça. Ainda que
conheçamos a verdade que vamos pregar, não ousamos tirá-la de nosso cérebro e
entregá-la às pessoas. Antes, prostar-nos-emos humildemente perante Deus, pedindo-lhe
que dê vida novamente à verdade que já conhecíamos.
Assim a verdade será impressa
em nós de novo de modo que o que falamos não é mera recordação de nossa
experiência passada mas uma nova experiência de vida. Desta forma o Espírito
Santo com seu poder controlará o que pregamos.
É melhor esperarmos perante o
Senhor antes de falarmos, permitindo assim que sua palavra (ou às vezes aquilo
que já conhecemos) impressione nosso espírito de novo. Ainda que tenhamos
pouco tempo, o Senhor é capaz de imprimir a mensagem em nosso espírito em
poucos minutos. Tal experiência requer a abertura constante de nosso espírito
ao Senhor em nossa caminhada diária.
Devemos ressaltar este ponto,
pois ele é a chave de nosso êxito ou de nosso fracasso.
No caso de um crente
desviado, se pedirmos que fale de sua experiência passada, ele pode fazê-lo
pelo poder da memória e pode até mesmo falar com bastante propriedade. Mas
todos nós sabemos que o Espírito Santo não operará mediante ele. Entretanto,
percebamos que a obra que fazemos pelo poder da memória não é muito
diferente da pregação ou palestra do crente desviado.
Devemos rapidamente
reconhecer que a obra feita com a mente, na maioria das vezes, é desperdício de
energia. Pois o que procede da mente só pode alcançar a mente das outras
pessoas. Nunca pode tocar o espírito nem dar vida. Experiências antigas, não
renovadas nem avivadas, são inadequadas para nossa obra. Devemos pedir que Deus
renove a experiência antiga em nosso espírito.
O que acabamos de dizer é
ainda mais verdadeiro com referência à pregação da salvação da cruz aos
pecadores. Pode ser que tenhamos sido salvos há muito tempo. Se operarmos
somente pelo poder da memória, não será nossa mensagem demasiadamente antiga e
sem sabor? Mas se pudermos ver de novo em nosso espírito a fealdade dos pecados
e provar de novo o amor da cruz, ficaremos assim tocados pela compaixão de
Cristo para que os pecadores creiam nele e podemos retratar a cruz vividamente
perante as pessoas (veja Gálatas 3:1) para que creiam nele.
Como poderemos
emocionar os outros com o amor e com a compaixão de Cristo se nós mesmos somos
tão duros e frios? Pode ser que ao proclamarmos o sofrimento da cruz, nosso
coração não está de modo algum tocado e amolecido por tais sofrimentos!
Portanto devemos ir à presença do Senhor com
nosso espírito aberto para que o Espírito Santo faça com que sua palavra e
mensagem passem através de nosso espírito, fazendo com que nos derretamos por
sua palavra antes de a entregarmos. Não devemos depender de nosso sentimento,
do talento natural nem de nossa mente; antes, depender do poder do Espírito
Santo.
Deixemos que sua mensagem impressione o espírito dos que o ouvem e
também o nosso espírito. Oh! Toda vez que pregarmos devemos ser como Isaías,
que sempre tinha o fardo da profecia antes de profetizar. Ao ler Isaías
capítulos 13 a 23, notaremos que cada profecia é precedida da palavra
"fardo" ou "peso". Isto devia ser significativo para nós.
Toda vez que proclamamos a Palavra de Deus, primeiro devemos receber em nosso
espírito o fardo da mensagem que devemos entregar como se não pudéssemos
livrar-nos do fardo até que nosso trabalho seja feito.
Além disso, devemos pedir que
o Senhor nos dê o fardo para que a obra que fizermos não proceda de nosso
sentimento natural, de nosso talento nem de nossa mente. Devemos também passar
pela experiência de Jeremias: "Quando pensei: Não me lembrarei dele e já
não falarei no seu nome, então isso me foi no coração como fogo ardente,
encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer, e não posso mais"
(Jeremias 20:9).
Como podemos nós descuidar-nos ao proclamar a Palavra de Deus?
Devemos permitir primeiro que sua palavra queime nosso espírito para que não
deixemos de proclamá-la. Mas se não estivermos dispostos a entregar a vida de
nossa alma e seu poder à morte, jamais receberemos de novo a palavra do Senhor
em nosso espírito.
Se nós, como servos,
desejamos ser usados por Deus a fim de salvar os pecadores e de reavivar os
santos — isto é, proclamar a mensagem da cruz — devemos deixar que primeiro a
cruz opere em nós: fazer-nos, por um lado, desejosos de entregarmo-nos
diariamente à morte por causa do Senhor e por outro lado, dispostos a colocar o
poder e a vida da nossa alma no lugar da morte — aborrecendo a força que
pertence à vida natural, não confiando de modo algum em nós mesmos, nem em tudo
que procede do ego.
Então veremos a vida de Deus
e seu poder fluindo para o espírito das pessoas mediante nossas palavras.
A despeito de todas as
preparações de parte do evangelista ou pregador, algumas vezes ainda pode
falhar. Entretanto, não será devido a um fracasso total de parte dele. Por que,
então? Por causa da opressão e do ataque de Satanás.
A opressão e o ataque de Satanás
Satanás odeia a pregação da
palavra da cruz. Se proclamarmos fielmente a cruz do Senhor, sofreremos sua
oposição. Ele, freqüentemente, assalta o mensageiro da cruz das seguintes
maneiras.
Ele pode atacar, enfraquecendo a saúde do mensageiro — fazendo com
que ele perca a voz e encontre muitos perigos físicos — ou oprimindo-lhe o
espírito ao ponto de sufocá-lo. Ele pode operar no ambiente criando incompreensão,
oposição e até mesmo perseguição. Ele pode perturbar o tempo, impedindo que as
pessoas assistam às reuniões. Ele pode causar desordem ou confusão na reunião.
Pode incitar os cães a latir ou os bebês a chorar. Às vezes ele pode operar na
atmosfera, fazendo com que a reunião seja pesada, sufocante, opressiva ou
lúgubre. Tudo isso são obras do inimigo que o mensageiro da cruz deve reconhecer.
Já que temos tal inimigo e
podemos encontrar esse tipo de oposição, é preciso que conheçamos a vitória da
cruz. O Senhor Jesus, na cruz, fez mais do que simplesmente resolver o problema
do pecador. Ali ele pronunciou a sentença de juízo sobre Satanás; ali ele
derrotou o inimigo:
"...para que, por sua
morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse
a todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a
vida" (Hebreus 2:14b, 15)
"Despojando os principados
e as potestades [o Senhor Jesus], publicamente os expôs ao desprezo,
triunfando deles na cruz" (Colossenses 2:15).
Na cruz Satanás foi vencido,
pois ali ele sofreu o golpe fatal. Sabemos que "Para isto se manifestou o
Filho de Deus, para destruir as obras do diabo" (1 João 3:8). E onde isto
acontece? A resposta simples é: na cruz. Também sabemos que o Senhor Jesus veio
para amarrar o homem valente (Mateus 12:29). Onde? Na cruz no Calvário,
naturalmente. E preciso que compreendamos que o Senhor Jesus ganhou a batalha
na cruz. Devemos conhecer:
A vitória da cruz
Precisamos reconhecer que
Satanás é um inimigo derrotado. Donde se depreende que não precisamos ser
derrotados e que o inimigo não deve vencer. Satanás não tem direito de vencer
outra vez! Não deve ter nada, a não ser uma derrota total de si mesmo.
Que nós,
portanto, levantemos a vitória da cruz, tanto antes como depois de vermos a
obra de Satanás. Louvemos em voz alta a vitória de Cristo. Antes de começarmos
a operar, podemos declarar perante o Senhor: "Louvado seja o Senhor, pois
dele é a vitória! Cristo é o triunfador! Satanás já está derrotado! O inimigo
já foi destruído! Calvário é a vitória! A cruz é a vitória!" Devemos
repetir isto até que em nosso espírito saibamos que o Senhor ganhará
outra vez a luta. Devemos permanecer ao pé da cruz, pedindo a vitória e também
a destruição das obras do diabo.
Devemos pedir que Deus nos cubra, e também
àqueles que assistem à reunião, com o precioso sangue de nosso Senhor Jesus
para que não sejamos atacados por Satanás, mas o vençamos.
"Eles, pois, o venceram
[Satanás] por causa do sangue do Cordeiro" (Apocalipse 12:11).
Recentemente, enquanto
trabalhava na província ao sul de Fukien, o diabo freqüentemente tentou
oprimir-me e assaltar-me. Entretanto o Senhor ensinou-me nesta experiência que
devia firmar-me à cruz e louvá-lo. Às vezes meu espírito ficava profundamente
oprimido; eu não tinha liberdade, era como se um peso de mil quilos me
oprimisse o coração.
Outras vezes, ao entrar no salão de reuniões, sentia que o
próprio ar tinha sido poluído pelas obras do diabo. Em tais circunstâncias,
embora eu orasse ardentemente, não podia prevalecer.
De modo que comecei a louvar a Cristo por sua vitória na cruz: gloriava-me na cruz e injuriava o inimigo dizendo que ele não mais podia operar pois era um inimigo derrotado.Em seqüência, senti-me verdadeiramente liberado, e a atmosfera da reunião também foi mudada. Louvado seja o Senhor, pois a cruz é vitoriosa! Louvado seja o Senhor, pois Satanás está derrotado! Devemos saber exercitar, em oração, os vários aspectos da vitória da cruz contra os ardis, poderes e assaltos do inimigo. Sempre que houver oposição ou confusão de qualquer espécie, podemos declarar a vitória da cruz do Calvário. Embora às vezes não sintamos nada, entretanto, pela fé, reivindicamos sua vitória, e o inimigo será derrotado.
Se estivermos realmente
unidos à cruz — permitindo que ela realize uma obra mais profunda em nossa
vida e serviço, confiando com todo o coração na vitória da cruz — Deus fará com
que triunfemos em todos os lugares. Que Deus possa levar-nos, servos indignos,
a ser obreiros "que não têm de que se envergonhar" (2 Timóteo 2:15).
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